Mascarada
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Segundo domingo depois do primeiro
Sabedoria cristalizada de provérbio: domingo sem missa segunda sem preguiça não há Em Sales Oliveira de segunda à segunda sem solução de continuidade o comércio abria para o descanso trabalhoso dos colonos nas trocas nas compras nas vendas nos sábados antecipados de monotonia na escuridão silenciosa e trôpega dos caminhos de volta às fazendas Dia do Senhor domingo de todos os santos sexta da paixão quinta-feira santa sábado de aleluia domingo de ilusão Visto da selaria onde meu pai e meu tio ? depois de meu avô – atasanavam o couro a ferrugem a efemeridade férrea dos arreios o domingo era hoje nos olhos do menino o tempo domador do poeta adulto a fera vida do poeta moço o padrasto aflito do escritor astuto Porque é domingo novo ? e não de novo sábado segunda quinta sábado outra vez ? touros elegantes estilhaçam aquários de metáforas cheios de marfins Ninguém atende se o telefone toca e se não toca fica a hipótese de que seja bom e natural assim: a simplicidade da vida a vida simples patética num átimo complexa |